Archive for março, 2007

Nota de Falecimento

Faleceu ontem em São Paulo meu notebook Toshiba Satelitte A60, depois de 4 anos e meio de serviços prestados. O corpo já foi encaminhado para a UTI, onde espera-se que algum milagre possa trazer o defunto de volta ao mundo dos vivos.

Até lá, darei o melhor de si para escrever e publicar novos textos a partir de um desktop temporário.

março 20, 2007 at 10:20 am 1 comentário

About a Boy

images.jpgNick Hornby, apesar de ser um autor razoável, é geralmente subestimado por ser pop demais, ou então superestimado pelo mesmo motivo. São muitos os críticos que enxergam em Hornby um sub-escritor derivado do jornalismo cultural, e também são muitos que o consideram um gênio da nova geração da literatura inglesa.

About a boy – editado em português sob o título Um Grande Garoto – conta a história de Marcus (um pré-adolescente esquisito) e Will (um adulto absolutamente cool). A vida de ambos se cruza casualmente, e seu relacionamento vai se desenvolvendo sem que eles próprios consigam entender qual o papel de cada um nessa relação. Pai e filho, amigos de colégio, irmão mais velho e irmão mais novo, tutor e pupilo, são diversas as facetas que se apresentam.

Cada capítulo tem um deles como personagem principal, mudando o foco narrativo a todo momento. Hornby se posiciona muito bem tanto como Marcus quanto como Will, tornando a leitura leve e descontraída durante todo o texto.

Não é um clássico, e provavelmente jamais será um clássico. Mas é imensamente agradável vivenciar a experiência de Marcus e Will.

março 16, 2007 at 3:31 pm Deixe um comentário

Alice’s Adventures in Wonderland

Alice LiddellLewis Carrol, inglês, era além de escritor, matemático, fotógrafo e pastor anglicano. Dizem as más línguas que também era pedófilo, só porque tirava fotos de meninas nuas em seu estúdio.

Na verdade não era só pelas fotos. Além de passar toda a vida solteiro, há fofocas de que Carrol queria casar-se com Alice Liddell (foto), de 11 aninhos. Alice era filha de um casal de amigos, e muito provavalmente fruto de inspiração para a obra mais conhecida do escritor.

Pedófilo ou não, o fato é que Lewis Carroll criou uma das maiores fábulas infantis já escritas. Alice desce pela toca do coelho e chega à uma terra de maravilhas; passa por encolhimentos e esticamentos, discute com animais falantes, encontra cartas de baralho vivas, joga cricket com flamingos, participa de chás intermináveis, e chega até a desafiar a Rainha de Copas.

Apesar de ser considerado literatura infantil, não deixa de ser prazeiroso para adultos. E até desafiador, se você, como eu, optar por ler no original e não tiver um conhecimento fabuloso dos costumes britânicos.

março 15, 2007 at 1:24 pm 2 comentários

Pena de morte

Pena de morte é um assunto que vem sendo muito discutido ultimamente. Tenho a sensação que se o governo fizesse um plebiscito hoje, a maioria da população votaria a favor.

Qual a minha opinião a respeito? Difícil responder. Na verdade eu tenho duas opiniões, uma filosófica e outra prática.

Filosoficamente, sou a favor da pena de morte. Acredito que existem pessoas que simplesmente não têm o direito de fazer parte de uma sociedade. Um homem que estupra e mata uma menina de um ano e meio simplesmemente abdicou do seu direito de viver ao nosso lado. Ele deve ser preso, pois é uma ameaça para outras meninas de um ano e meio. Ele tem que ser punido pelo crime que cometeu. E apenas mante-lo preso por 30 anos não é solução, já que eu não acredito que ele possa ser reeducado ou regenerado. A alternativa mais segura (e econômica, por que não?) para a sociedade é matar esse criminoso.

Eu não acredito em Deus, nem tampouco no Inferno. Por isso acredito que a sociedade tem o direito de julgar o que é melhor para ela, e tem o direito de condenar à morte e tirar a vida de um de seus membros. Assim como se amputa um membro gangrenado para preservar a integridade do resto do corpo.

Vamos então à questão prática: não há, atualmente, uma maneira segura de se implantar a pena de morte no país. O judiciário brasileiro é uma piada de mau-gosto, a corrupção está entranhada nas forças policiais, e a incompetência do Estado é visível em toda e qualquer área por ele controlada.

Se é impossível sequer prender réus-confessos já julgados, se não há condições de julgar milhares de presos, que ficam aguardando que a audiência seja marcada, e se não se consegue nem resolver a questão dos menores infratores, como é que se pode sequer pensar em pena de morte?

Implantar a pena capital no país serviria apenas para complicar ainda mais a situação da justiça brasileira, teria efeito prático zero na diminuição da violência, e ainda estaríamos correndo o risco de mandar para a forca um punhado de inocentes.

Mas no meu mundo perfeito, quem mata uma pessoa de maneira premeditada e deliberada perde o direito à sua vida.

março 14, 2007 at 4:39 pm Deixe um comentário

Com uma perna só

Oliver Sacks é um neurologista inglês, além de escritor, um grande leitor de filosofia e apreciador de música clássica. O filme “Tempo de despertar“, com Robin Williams e Robert de Niro é baseado em seu romance homônimo. Sacks também escreveu “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu” e “O Antropólogo em Marte”, sempre descrevendo e comentando suas experiências médicas de uma maneira coloquial. Podemos dizer que é um antecessor bretão de Drauzio Varella.

Em “Com uma perna só” o autor nos conta o evento em que trocou de lado e foi ele próprio o paciente. Após um acidente ocorrido em uma escalada na Noruega, Sacks teve que se submeter a uma cirurgia ortopédica e ficou preso a uma cama de hospital, acreditando que sua perna esquerda (que ele podia ver colada ao corpo) não existia, não o pertencia.

Interessante, mesmo para leigos. Vale a pena dar uma olhada.

março 14, 2007 at 1:57 pm Deixe um comentário

O deslumbramento tricolor

A prepotência da torcida do São Paulo é conhecida de longa data. Vem lá de 1993, quando da conquista do segundo título mundial de clubes. Após o terceiro título mundial em 2005 e a conquista do quarto campeonato brasileiro em 2006, a prepotência tricolor atingiu índices inéditos.

A diretoria do Morumbi também nunca foi modesta. Marco Aurélio Cunha é famoso por suas tiradas cômicas e comentários irônicos, tendo o Corinthians como alvo preferencial.

Só que dessa vez a coisa extrapolou para dentro do campo; os jogadores do São Paulo já se acham tão geniais quanto acredita sua torcida. Leandro, que não passa de um atacante regular, se diz caçado em campo. Aloísio revoltou-se com Fábio Costa pela dividida dura no clássico de domingo, e até pelo ato do goleiro santista de telefonar demonstrando preocupação. Souza já pensa que é Raí. Jadílson reclama deveras de qualquer dividida ou entrada mais dura que recebe em campo, como se fosse um jogador raro, que se deva preservar.

Que os jogadores são-paulinos se acham especiais ficou claro após o clássico de domingo. O Santos foi muito melhor no segundo tempo, teve um gol erradamente anulado e deveria ter saído com a vitória. Ao invés de falar do jogo, os tricolores preferiram discursar contra os jogadores santistas, contra Vanderlei Luxemburgo e contra a Vila Belmiro ao invés de assumir suas responsabilidades pelo mau segundo tempo.

A imprensa também faz sua parte: Josué bate até na sombra, mas é considerado o melhor volante do país. Ilsinho é um ótimo apoiador pela direita, mas é extremamente deficiente na marcação. Ainda assim já tem gente dizendo que o garoto vai fazer história na seleção brasileira. A crônica esportiva paulistana é ligeira em elogiar a administração do SPFC, mas se esquece de casos como as contratações de Rodrigo Fabri (ficou mais de ano encostado) e Reasco (já chegou contundido) e da venda de Kaká por ridículos 8 milhões de dólares.

O fato é que enquanto o São Paulo continuar apresentando o futebol mais organizado e de maior qualidade do país, os torcedores dos outros times teremos que aguentar quietos o deslumbramento dos tricolores.

março 13, 2007 at 1:10 pm 2 comentários

Sexo Anal [uma novela marrom]

Luiz Biajoni é figura bem conhecida na blogosfera brasileira, já teve seu livro resenhado por praticamente todos os top blogueiros, e quase sempre recebeu os elogios merecidos. Sexo Anal é um puta livro.

Biajoni escreve com desenvoltura, usando de baixaria sem ser apelativo. Cada cena escatológica, despudorada ou pornográfica retratada no livro tem um objetivo maior para a trama, nos mostrando um aspecto psicológico novo ou indicando uma tensão ou uma afinidade entre dois personagens. A baixaria não é gratuita.

Mas isso não é tudo. Uma versão mais higienizada do romance também traria uma grande história, porque o estilo não segura um livro sozinho. A trama principal, bem como as subtramas foram cuidadosamente trabalhadas, os ganchos entre os capitulos foram bem construídos, e ao chegar ao fim nos damos conta que nem todos os palavrões nem a sujeira que escorre das páginas (virtuais) conseguiu tirar o brilho de uma história bem construída.

A versão digital que li pede e merece uma revisão um pouco mais cuidadosa, mas tenho certeza que alguém mais credenciado que eu já tenha avisado o Biajoni. Resta agora aparecer a editora de peito que vai botar essa merda toda no ventilador.

março 12, 2007 at 9:30 am 4 comentários

Bush e o ódio brasileiro

Impossível não falar da visita de Bush, e das muitas manifestações contrárias ocorridas ontem.

George W. Bush é um presidente controverso. Foi eleito em 2000 de maneira apertada, dependendo de decisão da Suprema Corte (apesar de discordar da decisão, Gore reconheceu a vitória de Bush). Viu o maior e mais surpreendente ataque terrorista da história acontecer debaixo do seu nariz. Invadiu dois países, e tomou decisões unilaterais a respeito da guerra, passando por cima da ONU.

Depois de tudo isso, foi reeleito. Seus níveis de aprovação vêm caindo, perdeu a maioria no Congresso, aumentam as pressões pela retirada das tropas no Iraque, aumenta o orçamento militar, mas não é tão difícil que consiga eleger seu sucessor.

George W. Bush e Luis Inácio Lula da Silva são muito parecidos sob um aspecto: sabem falar com o povão. Lula fala de futebol, faz caretas, bebe cerveja, comete gafes. Bush também bebe cerveja, também faz caretas, e fala muita bobagem.

O povo brasileiro se identifica com Lula pela origem pobre, pela falta de educação e pela aparente imbecilidade. O povo americano se identifica com Bush por sua riqueza, seu estudo, e pela também aparente imbecilidade. Lula e Bush representam muito bem os povos que governam. Mas sabemos que ambos são muito, muito inteligentes.

O cerne da questão do ódio ao Bush, ao meu ver, não passa de pura e simples inveja. Se fizéssemos uma rápida pesquisa na Av. Paulista, descobriríamos que de cada dez, doze manifestantes diriam que jamais viveriam nos EUA. Por causa do “imperialismo capitalista assassino”, que no fundo equivale a dizer que eles são ricos.

Os EUA é um país rico, muito rico. Ofensivamente rico, para nós brasileiros. E para o brasileiro, riqueza é ofensa. Qual a maior ofensa que podemos sofrer do que receber o presidente do país mais rico do mundo? Enquanto estão jogando na nossa cara a opulência do seu Air Force One, a grandiosidade das limusines blindadas, os mil e tantos membros da equipe de segurança, responsabilizamos George Bush pela nossa pobreza, pela nossa mediocridade, pela nossa total e completa falta de rumo como país.

Os EUA é tudo que nós poderíamos ter sido e não fomos. O sucesso dos EUA é a prova mais cabal e contundente do nosso fracasso. E por isso vamos às ruas gritar “Fora Bush”, para que não tenhamos que nos responsabilizar por nossos erros. E depois que ele for embora levando toda sua riqueza, podemos voltar a acreditar que vivemos no melhor país do mundo.

março 9, 2007 at 1:09 pm Deixe um comentário

Gostaríamos de informa-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias

Philip Gourevitch é um repórter norte-americano que chegou a Ruanda em 1994, logo após o extermínio da minoria étnica tutsi, levado a cabo pela maioria hutu, com apoio do governo do país.

Gourevitch entrevistou diversos envolvidos, desde sobreviventes tutsis e familiares das vítimas, até proeminentes figuras hutus acusadas de terem tomado parte no genocídio.

É uma história real de terror e intolerância, de seres humanos que assassinaram vizinhos e até parentes, distinguindo os que mereciam viver dos que não mereciam pelos documentos de identidade. Hutus mereciam viver, os tutsis (e qualquer hutu que fosse contrário ao genocídio) não tinham esse direito.

Algumas cenas descritas por Gourevitch parecem impossíveis, e o grau da maldade e do absurdo do ocorrido em Ruanda faz a morte do menino João Hélio parecer brincadeira de crianças.

Recomendadíssimo. Em edição de bolso por vinte e poucos reais.

março 9, 2007 at 10:08 am Deixe um comentário

Do PCdoB

A UNE protestar contra a visita do presidente norte-americano ao Brasil é uma coisa sem nexo, mas já estamos acostumados. Mas deputados estenderem uma faixa, dentro do plenário da Câmara Federal dizendo a um chefe de estado que ele não é bem vindo ao país, é o fim da civilização política.

março 8, 2007 at 4:10 pm Deixe um comentário

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